quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A fuga

Um dia, conversando com um amigo, surgiu uma dúvida. Um pouco estranha e incomum de se pensar, mas vale o exercício de imaginar.

Pense assim: cada pessoa tem, durante sua vida, suas mil e uma facetas, todas as personalidades e oportunidades que foi, que pensou ser ou que sequer admite imaginar (mas que estiveram lá!). Muitas construções no caminho que são abandonadas pouco a pouco na estrada, deixadas de lado conforme o caminho segue e as condições mudam.
Os interesses mudam.

Pois então, todo mundo já foi mãe, nem que tivesse sido só naquela hora em que viu a foto do bebê mais lindo do mundo (ou que deu uma dura no irmão porque ele não comeu as cenouras, também vale). Todo mundo já foi um craque no futebol, nem que fosse naquele único gol que você marcou na vida, quando a bola bateu no seu traseiro e o goleiro não viu (lembra? Foi um golaço! O primário todo vibrou!). Uns já foram o gordinho suado, outros a modelo internacional. Existe quem já tenha sido ambos.

Entre tomada de posições, mudanças de atitudes e devaneios momentâneos, não importa o sexo, a (des)orientação sexual, nem a idade. Não importa sua imagem para o mundo. Você já foi de tudo, nem que por meio segundo cada coisa.


Com isso em mente, me responda o seguinte:
Se por acaso cada uma dessas vozes pudesse momentaneamente se livrar de você e ser ouvida, qual delas jamais quereria voltar? Qual delas te abandonaria pra sempre e sem medo de ser feliz?

Pensei em algumas coisas, por exemplo o garotinho do primário cheio de expectativas com o futuro. Ele aparece vez por outra, quando você se encanta novamente com uma idéia. Pensei que talvez ele jamais quisesse voltar pra você, afinal, convenhamos, você vive tirando os sonhos do pobre. Faz questão de mostrar pro garoto que ele é infantil de mais e inocente de mais.

Pensei também que poderia ser a modelo gostosa. Bem, se ela pudesse sair do seu corpitcho por um momento, se pá ela correria o mais rápido possível (e sem olhar pra trás!) para as portas das emissoras de TV, ou para o colo de um cara rico. (Quanto preconceito! tsc, tsc)

Não, não.. acho que não, quem sabe o viajante? Aquele cara de dreads no cabelo, mochila nas costas e espírito de aventureiro pulsando no coração. Pô, esse aí ia ficar muito agradecido de sair da sua vida medíocre, vai?
Poderia viajar, ver o mundo, conhecer novas pessoas e culturas... tudo o que você sempre prometeu pra ele e nunca cumpriu.
Mas não sei, o cara é bonzinho. Ele acaba se adaptando, né?... É.. não sei.


Pensei, pensei. Mas não cheguei à uma conclusão.
Quem fugiria de você? Quem iria preferir ficar sozinho a seguir trocando de lugar com todas aquelas outras máscaras?


Se tivesse que escolher só uma... Quem?


[Quero deixar claro que, embora eu tenha escrito tudo, a idéia principal não é minha, é do meu amigo]

5 comentários:

  1. Você diz, a voz se apoderar de você e fazer exatamente aquilo que ela diz?

    Acho que no meu caso seria o eu músico, ou o eu esportista... que no fundo eu guardo comigo, pq ainda toco piano (às vezes) e ainda sou atleta (faço biathlon).

    Muito legal essa idéia: na verdade eu chego à conclusão que somos do tamanho da nossa determinação. Mas a determinação é frágil muitas vezes, né? Muito mais legal ver uma TV ou jogar videogame do que estudar pra uma prova ou ler um livro... muito mais legal sair com os amigos e beber que ficar em casa e descansar para um compromisso sério no dia seguinte. Metade dos meus amigos, quando eu era pequeno, queriam ser médicos, hj eu acho que uns 2 ou 3 se tornaram médicos... o resto fez uma faculdade qualquer. Eu mesmo quis ser músico, parei pra fazer administração... determinação. Faltou isso.

    Mto bom!

    Bejo!

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  2. Estava dizendo mais de a voz "se livrar" do que se apoderar de você, mas creio que um não exatamente elimina o outro.

    No seu caso, a diferença seria que o músico sairia do Edu administrador e criaria sua própria vida. Mas acho que se apoderar de você também o daria uma nova vida, né?

    Mas falando em determinação... você não precisa deixar o seu pianista sufocar, rapaz. Abre espaço e deixa ele dar uma respiradinha.

    =)

    Beijo!

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  3. o que sairia de mim é o meu eu que não é certinho e não tem medo de errar... esse pularia para fora e me abandonaria por completo para ser feliz...

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  4. hmm... O certinho e o cadeirante?

    Quanto ao primeiro, digamos que a mensagem está clara. Mas ao segundo eu acho que terei que pensar melhor.
    o.O

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