domingo, 30 de maio de 2010

Coxinhas

O menino jogava futebol com os amigos. Mas não gostava de jogar futebol. Estudava, mas não queria estudar. fazia de tudo, mas não queria nada daquilo. Ele queria na verdade vender coxinha. Ele adorava o cheiro da coxinha, adorava o barulho do óleo fritando a massa gorda recheada de frango, de camarão, de queijo. Ele não se importava do que fosse, gostava daquele ambiente e, é claro, de receber o dinheiro por aquilo.

Mas ele não podia ficar lá. Como iria explicar para os pais que queria virar vendedor de coxinha? Ficariam arrasados. E mais: com certeza o deteriam. Como explicar pros amigos que não queria estar lá onde eles estavam. Ririam dele.
Como fritar sozinho uma coxinha? Iria se queimar, com certeza
Resolveu então se virar com o que já estava em sua vida e deixar esse plano pra depois.
O menino acabou aprendendo a tocar violão. Depois veio a guitarra. De repente veio um violino e logo um cello.
Vieram também os shows. E o menino gostava daquilo.
Vieram as multidões, os fãs, as drogas baratas... sempre mudando de um instrumento pro outro, sempre buscando um que seja melhor. Sempre se dando muito bem. Sempre som grana alta e sempre por cima.
Era um sucesso, afinal.
Nunca foi deixado pra trás, nunca lhe escapou uma só coisa que quisesse, nunca foi obrigado a nada. O que mais ele podia querer?

Bem, disso ninguém sabe, mas até hoje quando o menino pára em um bar ou em uma lanchonete, sempre pede sua querida coxinha. Para ele a de frango, tradicional. E de repente ele se pega pensando... o que diabos esta fazendo deste lado do balcão.
E se lembra, com um grande pesar, que tudo foi apenas uma grande desculpa. Ele sabe que não tentou unica e somente por medo. Um medo horripilante de ser quem era.

Quem sabe um dia o menino, pensa ele mesmo, tome coragem, largue a vida que não é sua e vá finalmente se deliciar com o estalar do óleo fervente.

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